01/05/2013 21:52

PAPELÃO ONDULADO: PREVISÕES DE VENDAS

 

Coluna ABPO 18
 
Revista - abril/April 2013
 
 
POR FELIPPE TAJTELBAUM,
 
DIVULGAÇÃO
 
ASSESSOR ECONÔMICO DA ABPO 
.: ABPO@ABPO.ORG.BR
 
PAPELÃO ONDULADO: PREVISÕES DE VENDAS
 
O papelão ondulado exige, como qualquer outro produto, 
a elaboração de previsões de vendas para as atividades 
de planejamento de longo, médio e curto prazos e, mais 
especificamente, para a montagem das peças orçamentárias, 
anuais e plurianuais.
 
Ainda que se elaborem essas previsões com margens de variação 
em cenários normais, otimistas e pessimistas – o que já pode 
ser suficiente para várias preocupações dentro do planejamento de 
médio e longo prazos –, não é possível furtar-se ao estabelecimento 
de valores fixos, principalmente no caso de orçamentos anuais que 
irão servir de parâmetro para planejamentos na áreas de marketing, 
investimentos, programas de pessoal, compras, financeira e outras.
 
Por vezes, as previsões de vendas de produtos através de pesquisa 
direta com o mercado consumidor não são muito factíveis ou 
podem conduzir a distorções significativas.
 
Estando ou não nessas condições, torna-se recomendável, nos 
estudos de elaboração das projeções, recorrer a eventuais correlações 
existentes entre as vendas do produto com indicadores socioeconômicos 
para os quais existam projeções de âmbito mais geral, 
que já são conhecidas ou permitem uma definição.
 
Na década de 1970, alguns analistas econômicos do setor do 
Papelão Ondulado (PO), pesquisando vários indicadores, estabeleceram 
que a melhor correlação das vendas de PO se verificava com 
o índice de Produção Física Industrial, indicador cuja série histórica 
vem sendo divulgada até nossos dias pelo Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE).
 
Naquela ocasião, a curva que ajustava como média os valores observados 
tinha função exponencial – ou seja, as vendas em volume 
de PO cresciam exponencialmente em relação à produção industrial.
 
Esse comportamento explica-se pelo fato de que, já àquela época 
 
 
Coluna ABPO 19
 
abril/April 2013 - Revista O Papel
 
(período de rápida evolução da produção industrial), as próprias 
embalagens de PO se encontravam em uma fase de acelerado crescimento 
em seu ciclo de vida.
 
Além do próprio crescimento do consumo dos produtos que utilizam 
o PO como embalagem, assistia-se a uma contínua substituição 
de materiais de embalagem pelo PO, a introdução de embalagens 
em produtos antes comercializados a granel, a adoção de embalagens 
para produtos não industrializados, a sofisticação do consumo 
pelo aumento de renda da população, com a introdução de produtos 
antes inexistentes, e ainda a sofisticação dos pontos de venda de 
produtos, com a criação de grandes empresas de varejo.
 
Daquela época até os anos recentes, continuamos testando indicadores 
econômicos capazes de apresentar correlação com o PO 
e temos concluído que a produção industrial permanece como o 
indicador de melhor correlação. 
 
Com o PO atingindo uma fase mais adiantada de seu ciclo de 
vida, a correlação deriva para uma função linear, em que as vendas 
crescem de forma mais proporcional à produção industrial.
 
Há ocasiões em que o crescimento econômico ocorre de modo 
irregular, com alguns setores industriais crescendo mais do que 
outros, ao contrário do início do processo mencionado, em que o 
grande crescimento era provocado pela contribuição de todos os 
setores em proporções não muito díspares.
 
Esse fato nos levou a pesquisar correlações com aberturas de variáveis, 
contemplando os setores industriais com maior concentração 
de produtos que utilizam embalagens de PO. Essas correlações, 
com maior número de variáveis, revelaram-se igualmente piores 
que a produção industrial considerada como um todo.
 
Algum resultado melhor de correlação pode ser obtido tomando-
se como variável independente a produção da indústria de transformação, 
já que o valor complementar da indústria extrativa envolve 
produtos que não utilizam embalagens de PO.
 
Igualmente, outro incremento de grau de correlação pode ser 
obtido utilizando-se médias móveis trimestrais em vez de índices 
mensais da produção.
 
Esses graus superiores de correlação, no entanto, não implicam 
o abandono do valor mais habitualmente projetado pelo mercado 
geral, que é a produção física industrial como um todo.
 
Para ilustrar a correlação das vendas com a produção industrial, 
temos habitualmente utilizado o gráfico do Quadro 1, com os Índices 
da produção industrial (no gráfico está representada a indústria 
de transformação, com valores não muito diferentes da indústria 
geral) e os índices da expedição de PO, em volume, ao longo do 
tempo, pelos seus valores mensais. 
 
Os índices da expedição de PO, para o gráfico, foram calculados 
igualando-se sua média mensal de 2005 à média mensal do índice 
da produção industrial desse ano.
 
No gráfico, foram assinalados os graus de correlação calculados 
para diversos períodos. Assim, para o período integral de janeiro de 
2005 a dezembro de 2012, o grau de correlação entre os indicadores 
é de 83,9%, valor considerado relativamente baixo. Isso pode 
ser justificado pelo comportamento não habitual da correlação, verificado 
nos anos de 2009 e 2012.
 
Quando se tomam, no entanto, os graus de correlação de períodos 
mais curtos, observa-se um significativo incremento desses coeficientes: 
89,1% (de 2005 a 2008), 86,7% (2011 e 2012) e 96,2% 
(entre 2009 e 2011).
 
No período de 2009 a 2011, considerando-se as médias móveis 
trimestrais, o grau de correlação ascende ao valor de 97,6%! 
 
O fato de haver correlação entre os indicadores não significa, 
necessariamente, que se pode projetar, com pequena margem de 
erro, o que deve acontecer com a variável dependente utilizando-se 
a função de correlação.
 
A correlação calculada está sujeita a desvios padrão que assumem 
valores razoavelmente significativos em determinados períodos, de 
modo a tornarem-se problemáticos quando utilizados para projeções.
 
Levando sempre em conta que a correlação, apesar de linear, não 
conduz os indicadores a valores que evoluem na mesma proporção, o 
que exigiria que a função linear fosse uma reta passando pela origem, 
e reduzidos desvios padrões, ilustramos na tabela do Quadro 2 o 
comportamento dos indicadores em suas evoluções anuais.
 
Como se vê, acusaram-se diferenças significativas de evolução 
dos indicadores nos anos de 2009 e 2012.
 
Como conclusão natural dessas constatações, na maior parte do 
tempo as projeções para a produção industrial permitem prever, 
com razoável margem de erro, as expedições de Papelão Ondulado.
 
Isso, no entanto, não deve ser utilizado como procedimento exclusivo 
para projetar essas expedições.
 
Não se pode abandonar, com essa finalidade, a sensibilidade da força 
de vendas na análise das informações colhidas do mercado consumidor.
 
A experiência acumulada pelo pessoal integrante da força de vendas, 
contando com as orientações devidas dos gestores das empresas, 
permitirá, ao longo dos anos, permanente aperfeiçoamento das projeções 
em decorrência da soma das previsões do pessoal de vendas 
com as informações geradas pelas análises de correlação.
 

 

—————

Voltar